13 de setembro de 2010

Mary & Max (2010)


Cada vez mais é comum adultos irem assistir animações em cinemas, esperando obras com conceitos interessantes e dignas de aplausos. Apesar de ainda haver um ou outro preconceito quanto as animações em geral, as animações estão cada vez mais presentes em listas de melhores filmes longa-metragens do ano.

Claro que não podemos crucificar também as pessoas que ainda vivem desse preconceito, pois afinal elas viveram numa época inteiramente dominada pela Disney e seus filmes “infantis”. Portanto o preconceito existe, justamente por acharem que os “filmes animados” continuam no mesmo formato. O que não é verdade.

As animações atuais tem cada vez mais passado por reformulações, e principalmente investido nos seus roteiros. Ainda que Walt Disney fizesse muitas obras-primas, as animações ficaram no controle automático passado certo tempo.

Hoje em dia temos a Pixar, a Dreamworks, entre outras companhias que prezam por uma animação singular. Não apenas divertida, mas também tensa e inteligente. Afinal, nem a mais das evoluidas mentes do mundo acharia que teríamos filmes no formato de animação falando de ateísmo, de religião, de contrastes sociais, isso só para listar alguns...

Obras como Valsa com Balshir, Persépolis e agora Mary e Max são na minha opinião inteiramente feitas para adultos. E estão fazendo, como salientei no inicio, os adultos irem cada vez mais para o cinema prestigiar essas brilhantes obras...

Em Mary & Max, o filme acompanha dois personagens solitários, cujas vidas se cruzam pelo maior dos acasos: uma página aleatória aberta em uma lista telefônica. Motivada por uma dúvida infantil, a australiana Mary Daisy Dinkle, de 8 anos, decide escrever ao nova-iorquino Max Jerry Horowitz, de 44 anos. Junto à carta, alguns desenhos, uma barra de chocolate e a dúvida: "de onde vêm os bebês nos Estados Unidos". A correspondência inocente muda a vida de ambos para sempre, iniciando uma história que transcorre por mais de uma década.

A primeira direção a ser elogiada é a de arte. O trabalho de Craig Fison é incrível, e nos mostra um clima sombrio impressionante. Veja por exemplo como as cores cinzas são recorrentes no longa. E mais, olhe Nova York e o jeito como é colocada no longa. De uma maneira suja e sem cor, ao passo de que a cidade australiana em que Mary vive, tem cores um pouco mais fortes, mas é extremamente mal cuidada e bastante isolada do mundo. Como nos mostra as tábuas completando as janelas...

Os diálogos do roteiro escrito por Adam Elliot são extremamente inteligentes e sutis. Veja como cada personagem muda o estilo de falar sobre determinados tópicos: uma criança de 8 anos para um senhor de 44. Aliás, salientado com uma força impressionante por Philip Seymour Hoffman (Max) e Tonny Collete (Mary).

Veja a cena em que Mary e Max discutem sobre religião, e Max diz que é ateu. O passo seguinte do roteiro é mostrar como o ateu se sente em relação à vida e a sociedade. E me emociona muito, uma frase usada por Max para comprovar isso: “Às vezes penso que queria ser o distribuidor de todos os chocolates no céu, mas aí me lembro que sou ateu, e que não irei para o céu”, algo que a direção precisa de Elliot completa com o sonho se evaporando do personagem, na tela. É tocante.

Aliás, Max é uma figura fascinante. Cansado de viver sem amigos e da sociedade, ele não agüenta a rotina em que vive, mas mesmo assim não consegue sair. Por mais que as coisas aconteçam positivamente em sua volta. Ganhar um prêmio ou uma mulher que parece interessada por ele. Nada faz Max perder esse seu sofrimento do mundo, esse isolamento, e conseqüentemente as crises nervosas que o personagem possui.

A direção de arte acerta em cheio em retratar esse mundo melancólico que Max vive. Vemos toda sua depressão, não apenas em suas ações, mas também em seu lar e sua paixão por uma animação...

Já Mary é uma personagem com forte interessante para conhecer um novo mundo. Uma nova sociedade. Já que não possui nenhuma amizade em sua cidade, também vive reclusa, mas justamente tem o interesse de conhecer novos lugares, para sair dessa “prisão” e conhecer coisas novas. Veja como sempre as perguntas sobre o mundo e sua existência sempre parte dela. O único problema de Mary é que ela é a parte mais frágil da amizade. Mary geralmente é a que mais sofre na relação dos dois personagens.

Olhe por exemplo quando Max não aceita um texto escrito por Mary, e como a casa da personagem vira pro avesso. Mais uma vez retratado brilhantemente pela direção de arte de Frison.

Por fim, como em toda a animação competente, a lição pra se levar é a da amizade. Não importando credo, cor ou classe social; e no mais novo exemplo, nem a distância. A amizade pode ser com qualquer pessoa, que entenda a gente ou não. Que ajude a gente ou não. O importante é que ela está lá para nos tirar de um mundo sujo, corrupto e rotineiro. É a amizade de duas pessoas que gostam uma da outra. É a amizade de Mary & Max.

(5 estrelas em 5)

Um comentário:

Jonathan zZZzZZz Rodrigues disse...

muito bonito o texto, parabéns. esse filme foi lindo mesmo.