20 de abril de 2011

A Garota da Capa Vermelha (2011)


Não, essa floresta não aparece no filme!

Em sua crítica de Crepúsculo, o crítico Pablo Villaça foi inteligentíssimo ao expor a analogia que Meyer fazia nos livros ao exaltar o sexo e romancear uma história de ficção. Se Villaça descreve que em Crepúsculo vemos o vampiro Edward que tem um anseio de fincar suas presas na jovem Bella e que não sabe o quanto conseguirá segurar-se; em Crepúsculo 2.0, ops, “A Garota da Capa Vermelha”, vemos aparentemente a mesma situação quando um dos dois personagens apaixonados pela mocinha a pega no colo e diz que quer comê-la. Ora, faz sentido que a diretora Catherine Hardwicke queira manter a sua fórmula de uma mocinha que é disputada pelos dois gostosões da cidade, envolvida por monstros e lendas, mantêm diálogos que seriam encaixados em qualquer filme de comédia com o mesmo timing e exalte o sexo. Porém, Hardwicke passa a considerar o seu público ainda mais incapacitado e nos apresenta com “A Garota da Capa Vermelha” um filme não apenas estúpido, mas algo que mantém uma necedade impressionante durante 1h30min.




Escrito por David Johnson (A Órfã), a história gira em torno de Valerie (Amanda Seyfried) que é uma jovem que vive em um vilarejo aterrorizado por um lobisomem. Ela é apaixonada por Peter (Shiloh Fernandes), mas seus pais querem que se case com Henry (Max Irons), um homem rico. Diante da situação, Valerie e Peter planejam fugir. Só que os planos do casal vão por água abaixo quando a irmã mais velha de Valerie é assassinada pelo lobisomem que ronda a região e o povo do vilarejo parte em busca de vingança atrás do animal.



Demonstrando sua falta de qualidade como diretora desde o começo do longa-metragem, Hardwicke faz um trabalho quase hilário ao dar movimento na sua câmera em cenas que os personagens olham para os lados em tons acusatórios e duvidando de tudo e todos; ou focalizar momentos, como a cena em que Oldman é apresentado e surge um enquadramento de dentro da carruagem focalizando a cruz com o padre no meio; ou dar closes nas reações de seus personagens a cada olhar desafiador. Algo que não serve nem como um exercício técnico para a diretora.



Outro grave problema é que nem a diretora sabe o que quer e isso prejudica não só a narrativa, mas também parece que o filme inteiro foi feito às pressas (algo que parece ser comprovado também na péssima direção de arte). Somos apresentados a cenas em que Hardwicke usa a câmera subjetiva para dar ares de perseguição à personagem, algo que além de nunca acrescentar em nada a trama – principalmente por seu mau uso –, é completamente esquecido pela diretora.



Infelizmente, a direção surge até como hilária, em um conjunto inacreditável de erros e que realmente assustam. Ao começar pela edição de som que faz um trabalho tenebroso ao dar alusão a deslizes de personagens entre sombras e burburinhos quando alguma revelação é feita. A trilha sonora de Alex Heffes e Brian Reitzell também faz um trabalho completamente absurdo ao evocar tons aventureiros em cenas de terror ou romancear cenas que deveriam ser importantes; o único acerto dos dois compositores surge na patética cena da festa em formas de uivos, algo interessantíssimo, mas pontual.



Também apoiando as idéias patéticas da diretora, o elenco parece saber exatamente o que fazer ao encarnar personagens para adolescentes histéricas e o que vemos a seguir é uma repetição das atuações de Stewart e Pattinson no primeiro exemplar da “saga dos vampiros”. Fernandes parece querer demonstrar nervosismo quando engole seco, ou mostra os lábios tremendos, ou vira de lado ao exclamar algo, ou até o jeito de andar de seu personagem. Sua construção patética é ainda acentuada pelo figurino que usa – desde o corte de cabelo até a roupa com um decote em v para acentuar seu físico de galã.



Construindo sua personagem de forma igualmente estúpida, Seyfried é ainda mais terrível ao proporcionar cenas como a péssima cena da festa em que aparece para impressionar Peter insinuando uma espécie de lesbianismo para deixar o outro mais ouriçado, ou a cada respiração ofegante da personagem, com frases como “Eu não acredito em você” ou “O amor é mais forte”.



Aliás, o roteiro sempre colabora para as péssimas atuações do longa, o que acaba também sobrando para o geralmente competente Gary Oldman, que acaba oferecendo uma das piores atuações de sua carreira. Criando seu personagem como um padre lunático e que faria de tudo para matar aquele monstro, a apresentação de seu personagem é ainda mais grotesca ao retratar suas duas filhas saindo da carruagem para ir ao seu encontro e apenas exclamar: “esse é o mesmo monstro que matou nossa mãe”!?




Igualmente patética é a fotografia de Mandy Walker. Um dos grandes exemplos é a floresta que nunca surge com contornos mais escuros ou assustadores, muito pelo contrário, a floresta sempre conta com uma iluminação comum e muito mais segura que a própria vila. Outro exemplo é quando Walker investe num tom azulado para representar a noite em que o lobo ataca a irmã de Valerie, ou a cena em que a câmera mostra um clima ensolarado na direita, a igreja no centro e tons azuis na esquerda. Constrangedor!



Não satisfeita em ridicularizar os contos vampirescos, Hardwicke parece ter prazer em chacotear a mitologia dos lobisomens e brincar com aspectos da história da Chapeuzinho Vermelho. Somos surpreendidos por cenas não só como “que olhos grandes que você tem vovó” – juro que não sei como Seyfried não riu nessa cena -, mas por cenas que podem gerar grandes gargalhadas ao demonstrar o lobisomem falando com a personagem título e a personagem exclamando: “Meu deus!! Você fala...”. Logo, é interessante ressaltar uma das cenas hilárias da patética festa no segundo ato em que vemos uma dança incomum em que Seyfried e sua amiga dançam batendo palmas, numa espécie de “dança de ciranda”. Oras, é a melhor analogia do filme. Remete a mesma maturidade dos envolvidos nessa produção, pessoas com complexo infantil e que acreditam que todos os cidadãos do planeta são iguais: imaturos, irresponsáveis e tolos.




(1 estrela em 5)


Um comentário:

Willians disse...

Concordo com tudo que vc disse, o filme é péssimo, uma extrema decepção, alias não se deve esperar nada de bom de quem dirigiu Crepúsculo.
Filme feito para adolescente que aceita qualquer coisa....vide a saga Crepúsculo que consegue ser extremamente irritante e angustiante de tão ruim. A Garota da Capa Vermelha segue o mesmo caminho.