23 de agosto de 2011

O Homem do Futuro (Brasil, 2011)


“O Homem do Futuro”, novo filme do diretor Claudio Torres, não mostra-se parecido apenas no nome com o filme de Robert Zemeckis, “De Volta para o Futuro”, mas também em temáticas, ações e motivos. O filme de Torres, aliás, é impressionantemente honesto na sua abordagem e surpreendentemente corajoso em seus efeitos especiais, aproximando-se de aspectos hollywoodianos e surgindo quase como uma lembrança e nostálgia de outros tempos.  


Escrito e dirigido por Claudio Torres (o mesmo de “Redentor” e “A Mulher Invisível”), Wagner Moura é Zero, um cientista genial, porém infeliz por seu passado – onde há 20 anos foi humilhado publicamente na faculdade e perdeu o grande amor de sua vida, Helena (Alinne Moraes). É quando, prestes a ser demitido, ele aciona o acelerador de partículas em que está trabalhando e acaba voltando no tempo por acidente, onde se vê diante da chance de alterar o seu futuro.


Estabelecendo seus personagens, diálogos e motivações desde seu primeiro ato, Torres é expositivo no roteiro querendo ser detalhista demais e de forma desnecessária – também apostando em flashbacks deslocados e nada eficientes. Torres consegue manter esse exagero em outras situações do filme, vide a cena em que o juiz pisca para Zero no tribunal. A fotografia de Ricardo Della Rosa é ainda pior ao “estourar” o branco no primeiro ato para mostrar as lembranças do protagonista ao invés de trabalhar apenas em diferenciar os tempos em que Zero está e se são lembranças ou não.


Em contrapartida, Torres utiliza de forma perfeita alguns planos na narrativa, como o de Moura começando a cantar, e consegue fechar todas as subtramas de forma muito eficiente. Enquanto a trilha escolhida por Luca Raele e Maurício Tagliari é, além de nostálgica, brilhantemente encaixada na trama, soando arrepiante. E se no repertório do filme temos desde Legião Urbana até Radiohead, Raele e Tagliari são igualmente competentes na composição da trilha original – administrando tons dramáticos e aventureiros.  


Quem não voltaria no tempo por essa mulher?
Criando três personagens diferentes em vozes, vestimentas e até no jeito de caminhar, Wagner Moura volta a oferecer mais um de seus ótimos trabalhos a trazer particularidades para cada um das versões alternativas de “Zero”. Enquanto o Zero nº 1 (o de 91) é um personagem que parece ter saído direto de uma obra “shakespeariana”, algo que é salientado pelo ator em sua expressão mais apaixonada e quase trágica, Moura investe demais no overacting para criar o Zero nº 2 quase como um cientista maluco. A zona de conforto de Moura é vista quando atua em sua naturalidade habitual em sua versão do futuro alternativo – e é notável a segurança do ator no papel por nunca parecer forçado.


Segurança e conforto que Fernando Ceylão não tem ao criar um personagem totalmente desnecessário e sem sentido na trama. Desde a relação de amizade com Zero que quase nunca é desenvolvida – tirando uma ou outra cena em que tenta proteger o amigo – até a versão alternativa do personagem que só serve para criar uma subtrama a mais no terceiro ato. Ao passo que Alinne Moraes é adorável ao criar uma personagem incrivelmente sexy e apaixonada, melhor, criando um vínculo necessário com o público que torce pelo destino dos dois no final do longa-metragem.


Mostrando como o cinema nacional pode ser corajoso ao sair do senso comum e a variedade de temáticas que pode fornecer, “O Homem do Futuro” consegue ser um sopro forte de inteligencia em um ano fraquíssimo em nosso cinema – com obras desde “A Antropóloga” até “Cilada.com”. E é igualmente notável que se em 2010, com Tropa de Elite 2, Wagner Moura protagonizava o filme nacional do ano, em 2011, com "O Homem do Futuro", ele repete esse feito. "O Homem do Futuro" é nossa ida nostálgica ao passado, nosso aprendizado com os erros e nossa época perdida. Nada mais justo seria se um filme que utiliza versos magníficos da banda Legião Urbana, como “ Temos nosso próprio tempo...” acabasse com outra música poética da banda em versos que definem o clímax final: “... e até lá, vamos viver. Temos muito ainda por fazer, não olhe pra trás, apenas começamos. O mundo começa agora”.

(4 estrelas em 5)

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