10 de setembro de 2013

Jobs

jOBS*, EUA, 2013. Direção: Joshua Michael Stern. Roteiro: Matt Whiteley. Elenco: Ashton Kutcher, Dermot Mulroney, Josh Gad, Lukas Haas, Matthew Modine, J.K. Simmons, Lesley Ann Warren, Ron Eldard, Ahna O'Reilly, Victor Rasuk, John Getz, Kevin Dunn, Nelson Franklin, Eddie Hasell. Duração: 128 min.

Se há uma mensagem evidente em Jobs é que estamos diante de um líder. Um messias. Alguém que transformará a tecnologia como conhecemos e aperfeiçoará sistemas de armazenamento até caminhos antes impensáveis. Steve Jobs inicia o longa-metragem caminhando de costas para a câmera, como se o espectador não fosse digno de visualizar – não ainda – a figura que conheceríamos em instantes. Não nos aproximamos de sua imponência, e uma série de cortes rápidos afastam o nosso primeiro contato. A trilha sonora também assinala os tons épicos da narrativa. Ashton Kutscher, que é agraciado por uma bela e sutil maquiagem, recebe os aplausos de pé ao demonstrar o Ipod pela primeira vez. O jeans, a aparência jovial, os tênis, os gestos e os refletores estão lá. Tudo está em seu devido lugar, mas a voz de Jobs pertence a um homem que está em seus 35 anos. E esse é o maior problema do filme de Joshua Michael Stern (Promessas de um Cara de Pau): a aparência ou a presença do seu personagem-título é mais importante do que o que lhe compõe.


Jobs não sabe que tipo de filme quer ser. É sobre a vida de Steve Jobs? A construção da Apple? O ápice da empresa? Os problemas de relacionamento que ele possuía com quem o rodeava? Sua solidão? A desconstrução de um mito? O diretor não se limita a fazer uma burocrática autobiografia, pensa em trazer a aura pop de filmes como A Rede Social ou Johnny e June, mas acaba se perdendo como uma das amizades de Steve. A diferença entre Zuckerberg e Jobs está na forma como a narrativa se desenvolve e nos envolvidos nela, não em quem possui uma história mais cinematográfica do que o outro. Falta profundidade em Jobs. Embora seu relacionamento agressivo com a ex-namorada e a filha que demorou para aceitar (mas colocou o nome dela em seu principal projeto) seja sublinhado, o roteiro somente se arrisca a brincar com a maneira quase divina que o sujeito é visto atualmente: “Jesus? Não, é o Steve”. Falta para o diretor saber que um quadro de Einstein pendurado em uma casa não aponta para a inteligência de uma pessoa e a maquiagem não esconde os problemas do roteiro.

*Crítica publicada originalmente no Diário Catarinense.

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