25 de novembro de 2013

Um Time Show de Bola

Metegol, Argentina/Espanha, 2013. Direção: Juan José Campanella. Roteiro: Juan José Campanella, Gastón Gorali e Eduardo Sacheri. Vozes: Rupert Grint, Anthony Head, Peter Serafinowicz, Rob Brydon, Ralf Little, Diego Ramos, Fábian Gianola, Pablo Rago, Eve Ponsonby, Juan José Campanella. Duração: 106 min.

Sabe como é o futebol, pode acontecer qualquer coisa”. Essa é a frase que, basicamente, sintetiza toda a estrutura criada pelo cineasta argentino Juan José Campanella em Um Time Show de Bola: o tom apaixonado e imaginativo que um simples esporte pode ganhar. Como diretor talentosíssimo – seu último filme foi o vencedor do Oscar, O Segredo de Seus Olhos –, Campanella esbanja excelência na dinâmica como enxerga a ação de sua narrativa e na liberdade criativa que a animação oferece para ele. Não é incomum, portanto, observarmos uma cena em que passamos através de uma vidraça ou os nossos personagens sendo perseguidos por um grupo de ratos extremamente ameaçadores (uma das melhores sequências do filme). Igualmente, o cineasta não se reprime ao brincar com o nonsense, como o chute violento que explode um dirigível, o gigantesco palácio egocêntrico do vilão, as multiopções tecnológicas em formato de bola e até em gags visuais mais sutis: “Em boca fechada não entra mosca” é a mais evidente. Além disso, a cena inspirada em 2001 – Uma Odisséia no Espaço novamente aponta para o tom narrativo que Campanella quer demonstrar – e é hilário ver um crânio utilizado como bola ofuscando a batalha pelo osso.

Entretanto, a animação trava em sua mensagem. Claro que a atmosfera infantilizada é clara: a derrota não importa, são a empatia e os chamados vencedores morais que nos envolvem na realidade atual. Mas isso é inutilmente abordado em um jogo importantíssimo no clímax final que não dá alusão a nada visto antes. Por que os jogadores de pebolim são importantes para a história, por exemplo? Apenas um deles é atingido pela gota da lágrima milagrosa, mas todos os outros também ganham vida, por quê? Além disso, Campanella ensaia uma crítica um pouco mais audaciosa: o poderio dos empresários, o bullying e a corrupção política; porém, nada que seja muito profundo. No final, contudo, a diversão gerada pelo conjunto da obra e as próprias sequências mais comoventes – como aquela em que é feita uma passagem de ruínas antigas para um garoto em lágrimas – podem acabar ofuscando o gosto amargo deixado por uma ineficácia no roteiro que não estávamos acostumados a ver nos filmes do argentino. Mas não o bastante.


*Crítica publicada originalmente no Diário Catarinense

                                

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