16 de fevereiro de 2014

12 Anos de Escravidão

12 Years a Slave, Inglaterra/EUA, 2013. Direção: Steve McQueen. Roteiro: John Ridley, baseado no livro de Solomon Northup. Elenco: Chiwetel Ejiofor, Michael Fassbender, Lupita Nyong'o, Sarah Paulson, Paul Dano, Brad Pitt, Andy Dylan, Paul Giamatti, Rob Steinberg, Michael K. Williams, Adepero Oduye, Benedict Cumberbatch. Duração: 134 min.

Conhecido por atmosferas caóticas e por estabelecer protagonistas tão instigantes quanto difíceis – como o líder do IRA, Bobby Sands, ou o viciado em sexo, Brandon –, 12 Anos de Escravidão surge como um dos maiores desafios da carreira do promissor Steve McQueen. Como não deixar que sua história se transforme em lugar comum ou em um melodrama piegas?! Não é um caminho muito fácil, o que a própria narrativa expõe em vários instantes: especificamente, a mise-en-scène de uma briga entre Solomon e Elize é novelesca demais e até mesmo as elipses breves, um abraço coletivo num reencontro e os planos mais curtos das primeiras sequências escancaram uma falta de autoconfiança. Todavia, McQueen não pretende ser sutil na sua abordagem: e o momento em que os escravos e os índios se encontram numa selva reflete bem essa posição. O início do longa-metragem já nos indica os escravos em um plano frontal, que procura nos mostrar não haver razão para esconder os podres da história. Exibe a realidade em sua forma mais crua. As selvas para a comida nas senzalas é outro belo exemplo. Ou o choro após o orgasmo, que denuncia as condições para o prazer.

Embora não seja sutil, 12 Anos de Escravidão não é um filme explicativo, entretanto. É equilibrado. A força de suas cenas nos banhos que apresentam as cicatrizes, a luta pela sobrevivência que evidencia uma falta de lealdade, alguém se calando por meio da tortura e a venda dos escravos são pontos altíssimos da história. Os próprios diálogos acusam a abordagem fria que o diretor se sente confortável: “O meu sentimento é do tamanho de uma moeda”, “Logo esquecerá o filho”. Além disso, McQueen explora diferentes pontos de vistas e facetas do período. Não só o ponto de vista dos escravos, mas das famílias envolvidas. Deixando tudo mais intenso. Solomon açoitando um capataz, por exemplo, é de um significado muito maior que a mesma sequência em Django, de Tarantino. Não que os símbolos óbvios não estejam mais lá a partir do segundo ato, pois estão, como mostra o protagonista vivendo com a corda no pescoço enquanto as crianças brincam e as pessoas levam suas vidas “normalmente”, mas é muito mais honesto. A própria tensão nos encontros de Solomon e Edwin aponta isso – e se há alguma justiça poética no cinema, Michael Fassbender ganhará o seu primeiro Oscar pelo trabalho monstruoso que faz aqui, assim como Chiwetel Ejiofor. Não dá para dizer que 12 Anos de Escravidão é o melhor filme de McQueen, mas certamente é um reconhecimento preciso de uma carreira próspera.

· Crítica originalmente publicada no Diário Catarinense

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