26 de maio de 2014

Praia do Futuro

Idem, Brasil/Alemanha, 2014. Direção: Karim Ainouz. Roteiro: Felipe Bragança e Karim Ainouz. Elenco: Wagner Moura, Clemens Schick, Jesuíta Barbosa, Savio Ygor Ramos. Duração: 106 min.

Praia do Futuro é um filme extremamente seco. Não é um longa-metragem que se preocupa em deixar um gosto adocicado ou tampouco um filme de autodescoberta sexual, como muitos podem supor previamente; mas algo brutal, instável e impulsivo – assim como o seu protagonista, Donato. Alguém que passa a vida resgatando afogados, como ele. Para o protagonista, o mar não representa algo bonito, mas um significado para sua própria existência: as águas demonstram um isolamento, apesar de sua imensidão.

Sob esta ótica, Karim Ainouz sempre sugere essas transformações ao decorrer da narrativa, mudando a perspectiva: observe, assim sendo, a maneira como o diretor destaca o brilho das luzes ao lado de Konrad na praia – como se ele fosse algo diferente, algo a mais na realidade de Donato. Igualmente, o passeio de moto se torna muito mais profundo quando o observamos como dois fugitivos de sua própria realidade. Ambos parecem buscar a instabilidade como conforto: Donato, o mar; Konrad, a adrenalina proporcionada por sua motocicleta. O instante em que se encontram é marcado por sentidos, não diálogos; é quase como se já se conhecessem. Sentem um ao outro. O sexo, da mesma forma, é brutal por uma questão de necessidade, de desejo. Não é um conhecimento entre as duas partes, mas de pressa. A intimidade só vem nos beijos divididos na Alemanha, no segundo ato, quando parecemos também estar próximos de Donato e Konrad.  

Da mesma forma, o cineasta expõe com segurança a separação que existe entre eles: se um enquadramento que aponta o instante em que os dois estão sentados num sofá e um quadro com as águas como aspecto central os afasta, o figurino de Donato também serve como prova da lembrança do Brasil – note, por exemplo, o apreço pela cor azul, com seus casacos e calças jeans. É interessante, igualmente, o equilíbrio entre o azul e o vermelho (do uniforme de salva-vidas) numa cena entre os dois – apontando que, pelo menos naquele segundo, a ligação era fortíssima. Além do mais, analise como o apartamento de Berlim é uma incógnita para o espectador, como se os cômodos do lugar indicassem que a intimidade nossa (e de Donato) fosse mínima.

É uma pena, portanto, que Karim prolongue demais sua narrativa, fazendo com que fique a impressão que a história poderia ser contada em pouco mais de 50 minutos: a maneira como o diretor resgata Ayrton (com Jesuíta Barbosa sendo extremamente subaproveitado; a briga no reencontro é cômica) ou sua insistência em planos contemplativos (além de seus enquadramentos desfocados) são exemplos de sua insegurança com a dinâmica estabelecida até então. Praia do Futuro é um filme de grandes ideias, e bastante frio na forma com que lida com o emocional de seus protagonistas – principalmente na primeira parte do filme –, mas deixa seu atrevimento para um clímax nada condizente com suas intenções. 


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