11 de junho de 2014

Anina

Idem, Uruguai/Colômbia, 2013. Direção: Alfredo Soderguit. Roteiro: Federico Ivanier, Alfredo Soderguit, Germán Tejeira, Julián Goyoaga e Alejo Schettini, baseado na novela de Sergio López Suárez. Vozes: Federica Lacaño, María Mendive, César Troncoso, Cristina Morán, Petru Valenski, Roberto Suárez. Duração: 80 min.

Há poucos filmes como Anina. Poderíamos dizer de outro jeito, idem: poucas animações possuem a pretensão e a qualidade da animação uruguaia, Anina, que estreou neste sábado, 7, durante a Mostra de Cinema Infantil. A história é simples, como toda criança; mas inventiva, cheia de sonhos e natural, bem, como toda a criança. Este é o maior artifício do longa, aliás: já que, assim como a animação Mary & Max, Anina sempre abraça a intenção de ser um produto de reflexão infantil. Como as crianças vêm o mundo? Quais suas realidades, seus medos, suas divagações? “Sou Anina, tenho dez anos e estou com um grande problema”, diz a pequena protagonista: ela foi suspensa por brigar com uma colega e possui um nome palindrômico. É divertidíssimo, além de comovente, portanto, observar seus raciocínios com a condição de bullying na escola e a associação com seu nome, assumindo que deve haver algum problema com ela. As cenas em que seu pai esclarece que não há nada de errado ou quando sua avó mostra que seu nome não está na lista de nomes mais feios do mundo são espirituosíssimas. 

Além disso, o diretor Alfredo Soderguit é inteligentíssimo a aproveitar os temas para fazer algo mais profundo: note a pouca luminosidade da cidade, o aspecto cinzento dos ônibus, como sucatas reaproveitadas, o clima sem vida, até chegar aos personagens, que exalam uma cor muito mais acentuada, como se fossem a esperança da cidade – numa visão mais ampla, a educação como forma primordial. Da mesma forma, um pedaço de pão caindo em slow motion é muito mais atrevido do que poderíamos supor, pois, ao mesmo tempo, oferece dois significados: um deles, o de que na nossa infância qualquer coisa poderia iniciar uma briga, com as crianças ao fundo incitando; noutro, a importância da comida em nível social. O segredo é exatamente a maneira que Soderguit encontra para guiar esse contexto – como as poucas folhas de uma árvore na escola (as únicas na cidade) lembrando a esperança enraizada naquele local. Não é seu único brilhantismo, entretanto, já que a maneira como Anina enxerga as pessoas ao seu redor é sempre instigante – com passagens belíssimas, como a que imagina a diretora um monstro ou quando vê através de uma gota de gordura, numa das melhores fusões do ano, sua vida num circo com o holofote sendo apontado em sua direção. Numa época em que o Uruguai é o centro das atenções, Anina não faz feio e desponta como uma das grandes animações do ano.

* Publicada originalmente no Diário Catarinense

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