31 de julho de 2014

Confia em Mim

Idem, Brasil, 2014. Direção: Michel Tikhomiroff. Roteiro: Fabio Danesi. Elenco: Fernanda Machado, Mateus Solano, Fernanda D’Umbra, Bruno Giordano, Geraldo Rodrigues, Antonio Saboia. Duração: 85 min.

Há um sistema de teledramaturgia rigoroso que o diretor Michel Tikhomiroff planeja seguir ao decorrer de Confia em Mim. Alimentando-se de um roteiro que conta com personagens irritantes o bastante para terem medo de recorrer à polícia quando são vitimas de um estelionatário ou policiais debochados característicos deste apelo novelesco, que apenas serve para estimular tramas maniqueístas, o cineasta sempre evita tocar em abordagens mais profundas e se rende ao mesmo vazio existente nos relacionamentos presentes no longa-metragem. Assim, criando quase uma fábula familiar contada por pais ricos que querem ensinar os seus filhos mimados que não se pode confiar em ninguém.

Deste modo, seria melhor começar essa crítica de outra forma, portanto: era uma vez uma família oriunda de uma novela malsucedida das nove, onde existiam duas irmãs completamente opostas – a primeira, uma próspera empreendedora do ramo de relógios, amada e a favorita de sua mãe; a segunda, cinderela, ops, Mari, que, por ser uma mulher independente e não querer seguir o caminho que sua mãe quis para ela, tornou-se a menos afortunada daquela família, construindo uma relação complicada com seus próprios familiares. Assim, por possuir essa insegurança amorosa acerca de suas qualidades desde cedo, Mari se apaixona perdidamente por um rapaz que encontra em uma exposição de vinho certo dia. Claro que o primeiro encontro é marcado por invadir restaurantes de hotéis e entrar ilegalmente em lugares de um teatro, mas tudo em nome do amor.

Um amor, aliás, que parece ser arquitetado em questão de dias. Afinal, o que importa a compreensão do espectador quanto a natureza daquele sentimento nutrido pelos dois? Porque é claro que não precisamos entender por que uma pessoa insegura e reclusa sentimentalmente como Mari iria entregar R$ 200 mil nas mãos de alguém que conheceu há semanas. Menos importante ainda é a história paralela entre Caio e sua outra vítima, que, veja só, acha que nada de ruim acarretará em subtrair meio milhão de reais de uma instituição para ganhar um dinheiro fácil.

E se Mateus Solano não parece ter esquecido os trejeitos de seu personagem televisivo mais famoso ou consiga passar eficientemente a falsa segurança de seu Caio, Fernanda Machado é ainda pior nas sequências que passa com a família ou na cena que tenta avaliar o que de fato aconteceu com o seu dinheiro.


Nenhum dos dois, por outro lado, têm culpa no tato do roteiro com uma história que poderia render uma análise densa sobre o controle emocional que estelionatários possuem em suas vítimas; deste modo é trágico a narrativa terminar com uma mensagem de vingança com as próprias mãos – lembrando-nos novamente da precariedade da estrutura ditada pelo diretor. Algo que até poderia ser incluído num fim de capítulo de uma novela de Aguinaldo Silva, mas que nunca poderia ser contido num longa-metragem. 

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