25 de julho de 2014

Planeta dos Macacos: O Confronto


Dawn of the Planet of the Apes, EUA, 2014. Direção: Matt Reeves. Roteiro: Mark Bomback, Rick Jaffa e Amanda Silver, baseado nos personagens de Jaffa e Silver, além do romance de Pierre Boulle. Elenco: Andy Serkis, Jason Clarke, Gary Oldman, Keri Russell, Toby Kebbell, Kodi Smit-McPhee, Kirk Acevedo. Duração: 130 min.

Arrisco dizer que Planeta dos Macacos: O Confronto é exatamente o filme que Charles Darwin e George Orwell se uniriam para realizar. Completamente calcado na evolução inversa, o homem para o animal, o cineasta Matt Reeves compõe sua narrativa totalmente centrada no caminho percorrido pelo homem até chegar ao estágio de passagem ao novo mundo que iremos observar. Deste modo, o olhar sombrio que inicia este filme é marcante por indicar a felicidade extinta daquele simpático César, o qual analisávamos no filme anterior e agora é o líder dessa “nova” civilização (e uma espécie de rei símio, como denuncia ele se dirigindo a um humano do alto de uma pedra). Igualmente, Reeves pontua sua história de forma ampla e profunda, com a análise evolutiva do mundo dos animais, assim mostrando a sucessão de seus sinais, linguagem, luta, caça, alimento, domínio e a primeira expressão: note, aliás, que é um grito de “vão embora” para os humanos. Nada é à toa, o que também ressalta os animais iniciarem nas cavernas, passando aos seus filhos sua racionalidade, para depois andarem em duas patas.

Ao mesmo tempo, o roteiro é quase transformado numa adaptação magnífica de A Revolução dos Bichos, que aqui possui Koba como seu Napoleão e César como Bola-de-Neve. Os humanos como invasores, a grande batalha, a liberdade (“macaco não mata macaco”), um dos símios se rebelando e usando objetos humanos, passando-se por ditador – o livro de Orwell é bem exposto no pouco mais de duas horas de filme. No novo mundo de Reeves, os humanos são comprimidos nas paredes que construíram, as portas se abrem aos macacos do nosso ponto de vista, o desarmamento é a mensagem e a nossa marca no mundo não passam de memórias num Ipad. É uma visão dura, mas impactante. Algo que consegue render até uma boa imagem ao primeiro filme. Avalie, por exemplo, qual a forma mais cruel que os símios conseguem imaginar para torturar os humanos: jaulas.

Se o César que conhecemos não existe mais, ele apenas evoluiu. Nem o olhar que inicia a narrativa se mantém o mesmo, como denuncia o fantástico (e coeso) close final – e muito mais que novamente apontar para uma metáfora belíssima de A Revolução dos Bichos, os olhos de César são de promessa. A sobrevivência agora é outra.

• Crítica originalmente produzida para o Diário Catarinense


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