22 de setembro de 2014

Anjos da Lei 2

22 Jump Street, EUA, 2014. Direção: Phil Lord e Christopher Miller. Roteiro: Michael Bacall, Oren Uziel, baseado numa história de Bacall e Johan Hill  e na série de TV criada por Patrick Hasburgh e Stephen J. Cannell. Elenco: Jonah Hill, Channing Tatum, Peter Stormare, Wyatt Russell, Amber Stevens, Jillian Bell e Ice Cube. Duração: 112 min.

Existe uma lógica na comédia atual que indica que, desvirtuando-se completamente do tom sério e explorando o surrealismo que o gênero pode proporcionar, é muito mais fácil o longa-metragem funcionar. "Já que não nos levamos a sério, vocês também não podem". E julgo que o sucesso de filmes como Guardiões da Galáxia seja exatamente este: o puro entretenimento, sem qualquer grande objetivo dramático. É arriscado, porém, filmes que estabeleçam nessa lógica seu único recurso. Todavia, felizmente, não é o caso do simpático Anjos da Lei 2, que abraça o clima despretensioso de maneira envolvente e divertida, fazendo com que isso, inclusive, ofusque as repetições do filme anterior. 

Brincando com sua própria concepção narrativa, afinal, ao iniciar com uma prévia do outro filme, assumindo-se esquecível, a narrativa de Lord e Miller sempre investe na caricatura de seus personagens e na metalinguagem: uma obra em construção com o nome de "23 Jump Street" ou o "dobramos o orçamento sem motivo algum" são bons exemplos. Da mesma forma, a dupla retoma a fórmula do primeiro filme, mas acrescenta o nosso conhecimento acerca dos protagonistas: assim, uma apresentação de poesia fica muito mais divertida, pois já compartilhamos com Jenko outras experiências improvisadas por Schmidt. Aliando, igualmente, gags que funcionam muitíssimo bem durante a narrativa: e duas das melhores são as incongruências de alguém que soa preconceituoso tentando ser politicamente correto (um "(...) ele é negro e já passou por muita coisa" fora de hora ou "Nem ligaria se ela fosse branca" são indicações) e, claro, o relacionamento de Schmidt com a filha do capitão. A sequência que se passa num jantar de pais na faculdade é impagável.

Por outro lado, o roteiro de Bacall e Uziel é confortável demais (e desnecessário) ao tocar novamente na discrepância física e afetuosa de algo já resolvido no filme anterior, fazendo com que o filme pareça uma simples repetição. Ainda que funcione em alguns momentos, principalmente nos split screens e no instante em que decidem tomar rumos diferentes ("Devíamos investigar pessoas diferentes" / "Uma investigação aberta, é isso o que você quer?"), não deixa o relacionamento dos dois personagens avançar mais que dois centímetros. Sem contar os diálogos explicativos do primeiro ato. 

O mesmo para a montagem de Keith Brachmann e David Rennie, que, embora acertem na transição entre as realidades opostas dos protagonistas na faculdade, pecam no exagero: a apresentação do que eles trazem ao dormitório é um exemplo. Mas nem mesmo as danças. as aulas sem inspiração ou a previsibilidade dos pontos de virada tiram de Anjos da Lei 2 seu apelo cômico. Pelo contrário, os diretores Lord e Miller conseguem ironizar o esperado tiro de quitação ou zombar Jenko procurando dentro do bolso de Schmidt uma granada. Não deixando de citar uma agradável homenagem à Corrida Maluca.

No fim, apesar de seus problemas, Anjos da Lei 2 constrói uma obra suficientemente inteligente para explorar sua abordagem ridícula (no bom sentido da palavra). Seja num encontro entre os dois protagonistas num campo aberto e dúbio - um vestido de policial e outro com uma bola de futebol americano, à frente de bandeiras americanas - ou nos bem humorados créditos finais, a obra consegue compreender e executar sua intenção; tornando-se, por conseqüência, um dos bons exemplares da comédia de 2014. 



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