15 de setembro de 2014

Rio, Eu Te Amo

Idem, Brasil/EUA, 2014. Direção: César Charlone e Vicente Amorim. Segmentos: Guillermo Arriaga, Stephan Elliott, Sang-Soo Im, Nadine Lebaki, Fernando Meirelles, José Padilha, Carlos Saldanha, Paolo Sorrentino, John Torturro e Andrucha Waddington. Roteiro: Andrucha Waddington, Paolo Sorrentino, Antônio Prata, Chico Mattoso, Stephan Elliott, John Torturro, Guillermo Arriaga, Sang-Soo Im, Elena Soarez, Otavio Leonidio, Nadine Lebaki, Rodney El Haddad, Khaled Mouzannar, Fellipe Barbosa, Mauricio Zacharias. Elenco: Fernanda Montenegro, Eduardo Sterblitch, Regina Casé, Emily Mortimer, Basil Hoffman, Vincent Cassel, Marcio Garcia, Ryan Kwanten, Marcelo Serrado, Vanessa Paradis, John Torturro, Jason Isaacs, Laura Neiva, Tonico Pereira, Rodrigo Santoro, Bruna Linzmeyer, Wagner Moura, Cléo Pires, Caio Junqueira, Harvey Keitel, Cláudia Abreu, Michel Melamed, Cauã Antunes, Débora Nascimento. Duração: 110 min.

Ainda que seja um filme de segmentos, os problemas de Rio, Eu Te Amo são muito maiores que "apenas" segmentos díspares. Não servindo nem como obra de apreciação estética nem de reflexão, muito mais para um cartão postal infantilizado, a narrativa tenta contornar seus problemas criando alguns truques a fim de parecer totalmente pensada, como nos indica a inserção de um personagem ou outro em histórias diferentes, além de combinar alguns dos piores (e mais rasos) pensamentos sociais num só filme. Assim, referindo-se muito mais ao Estado com cinismo e indiferença do que "amor".

A começar pelas inúmeras indagações e exclamações que não fazem sentido algum na montagem: "acho que o amor é bom" ou "a sorte é uma coisa muito boa". Claramente superficial nas abordagens, os segmentos seguem a mesma lógica - seja numa "vida simples" que a personagem da (ótima) Fernanda Montenegro vive até a desilusão da personificação de Wagner Moura. Na história de Andrucha Waddington, por exemplo, iniciamos com um grande plano de aproximação, o promissor reflexo da protagonista no chão, na água que sobra na rua, ouvimos a música Copo Vazio, mas esbarramos na redação de colegial que o roteiro nos oferece: "moro na rua porque quero". O mesmo problema que o belo curta de Sorrentino enfrenta ao demonstrar o dinamismo necessário para compreendermos a ruptura na vida daquele casal, mas sem a escrita para isso. E se fosse um segmento mudo, nesta perspectiva, ficaria muito mais fácil apreciar. Basta notar as divisórias que o diretor aponta (duas visões, duas sacadas, dois cigarros, a aproximação de Dorothy na piscina) e o clímax representado na frase: "Também te amo". La Fortuna, como foi chamado, dita-se apenas pela lógica da imagem - e há de se aplaudir o design da piscina lembrando a orla do calçadão de Copacabana -, mas sem reflexão alguma.

Algo que também ocorre com o segmento de Meirelles, que possui um argumento interessante no isolamento do mar e da areia, contrário à miscigenação de rostos, cores e sons nas calçadas de Copacabana, mas usa uma execução pífia para seus fins. Uma pessoa obesa ao som de um trombone é terrível. Sem esquecer de curtas, como o de Elliot, cujo clímax é uma suposta "anja" voando no alto do pão de açúcar, ou o inesquecível de Sang-Soo Im, que deriva num apanhado de estupidez envolvendo vampiros, presas, lua e carnaval. E se os segmentos de Saldanha e Arriaga são corretos, mas carecem de emoção, o de Padilha usufrui um cinismo condescendente ridículo e digno de ranço de classe média ao conjecturar os lamentos sociais de um brasileiro que olha pro Brasil sempre de cima.

Uma pena que o de Nadine Lebaki seja o único que se destaque e ofereça algum tom comovente para um longa-metragem que deveria sintetizar o amor por um ambiente tão diversificado e rico. No final, o drama do menino pobre que espera uma ligação de jesus retrata a falsa benevolência, o cinismo adulto e a ingenuidade infantil de forma madura e crível. Algo que poderia ser abraçado pelos outros diretores, mas que se mostrou um lapso de inteligência num antro de obviedades. 


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