Nos últimos quinze anos, o cinema de terror foi marcado por diferentes tentativas de ressuscitar subgêneros, alavancar o potencial de novas franquias e pela infindável quantidade de homenagens aos filmes setentistas/oitentistas, responsáveis pela formação de grande parte dos profissionais atuais. Surgiram grandes nomes e grandes filmes. Por um tempo, o
found footage foi um auxílio gigantesco para os independentes, o
mumblegore igualmente uniu uma parcela dos realizadores para trabalhos em conjunto, frutos de pouco capital e mais iniciativa. Com o panorama de mais ideias e menos dinheiro para realizá-las, os últimos anos ocasionaram alguns exemplares que automaticamente se tornaram seminais, deixando para trás a terrível década de 90. Definitivamente.
A seguir, além de indicar cenas importantes das obras (os FYC), listei 150 filmes imprescindíveis para desvendar o gênero nos últimos 15 anos:
150. Terror no Pântano (Hatchet, EUA, 2006)
Adam Green costuma construir seus terrores com uma dose de cinismo, como faz no simpático Digging Up the Marrow, onde brinca com sua própria filmografia. Embora tente sempre procure providenciar algum drama para a história. Na sua franquia Terror no Pântano, o original é o que mais se aproxima da sua pretensão máxima: construir um slasher autoparódia eficiente para contar a história de Victor Crowley.
FYC: Após achar que está a salvo, o personagem de Joel Murray tem a cabeça completamente girada e arrancada pelo assassino.
149. Styria (Hungria, 2014)
Numa continuação lógica do terror vampiresco atual, é um retrato provocante do isolamento e da renegação da família proveniente de uma garota que "grita" por mistério.
FYC: Antes de qualquer marca no pescoço de sua vítima, Lara enfia um caco de vidro no local, como se não quisesse tocá-la.
148. Sobrevivente (Backcountry, Canadá, 2014)
Em sua estreia à frente de longas-metragens, Adam MacDonald se desprende da proposta de inúmeros filmes do subgênero, envolvendo-nos num thriller crescente e de bom gosto.
FYC: A tensão gerada pelo estranho personagem de Eric Balfour, que produz uma desconfiança preconceituosa do casal Jenn e Alex, quando a preocupação deles deveria ser com a natureza animal, não a humana.
147. A Estrada (The Road, Filipinas, 2011)
Histórias entrelaçadas não são fáceis em nenhum gênero, o que dificulta as tentativas de Yam Laranas de expor os horrores da estrada que movem seu argumento. Talvez, a obra seja menos efetiva do que a pretensão inicial do diretor supõe, mas é intrigante e é elegante o suficiente.
FYC: A morte de Lara no banco de trás de um carro pegando fogo.
146. Quarentena (Isolation, Irlanda, 2005)
Nos últimos anos, a quantidade de filmes de infecção generalizada que se alastrou rapidamente pelo globo foi quase incontável. O filme de Billy O'Brien concentra sua atenção numa pequena comunidade rural, onde a praga é gradativa, natural e tensa.
FYC: Algo começa a subir pelas cobertas de Mary.
145. Insensíveis (Insensibles. França, 2012)
Juan Carlos Medina pode dar voltas e mais voltas, mas consegue acrescentar a inevitável mensagem: num mundo em que o espectro da guerra sobrevive, a insensibilidade à dor é um estudo que pode render resultados impressionantes.
FYC: Ao descobrir sua "insensibilidade", uma menina se ateia fogo e outros tentam fazer o mesmo, sem saber que não possuem essa mesma natureza.
144. Não Documentado (Undocumented. EUA, 2010)
Na constante discussão sobre a imigração nos EUA, em pautas reacionárias, o filme reúne o sadismo do subgênero com o mockumentary, ressaltando uma série de pensamentos "patrióticos" que torna toda a estrutura crível demais e, por consequência, mais intensa.
FYC: Numa espécie de inquisição, um dos imigrantes é questionado sobre aspectos culturais americanos para a decisão de sua sobrevivência ou morte.
143. The Children (Inglaterra, 2008)
Desde a primeira aparição de destaque de uma criança no horror, em O Golem, o uso da figura infantil sempre intrigou, pelo poder de sua dubiedade. Aqui, a fragilidade familiar e o isolamento correlacionam a mudança comportamental dos pequenos com o afastamento de seus pais.
FYC: A única opção de uma mãe, após ser atacada na barraca pelo seu filho, é matá-lo.
142. Mistério da Passagem da Morte, O (The Dyatlov Pass Incident. Rússia/EUA, 2013)
Típico caso de que nem as atuações inverossímeis ou a direção imprecisa de Renny Harlin sabotam toda a estrutura belissimamente executada pela fotografia, que sempre nos envolve no isolamento daquelas pessoas ou com o futuro delas.
FYC: A intrigante história da expedição que inicia o longa.
141. Hollow (Inglaterra, 2011)
Clássico exemplo de found footage que compreende que o charme do subgênero reside no relacionamento interpessoal dos protagonistas e as consequências de suas ações.
FYC: Um dos amigos deixa os outros para trás e começa a voltar para a cabana sozinho na escuridão.
140. Livide (França, 2011)
Uma alegoria macabra e insana que dá vida aos seus personagens estranhos, dentro de uma mistura de gênero constantemente instigante.
FYC: O instante que os três amigos entram na casa.
139. Casa dos Sonhos (Wai dor lei ah yut ho. Hong Kong, 2010)
Seu maior horror é a economia mundial, o que traveste seu drama em um thriller macabro e eficiente.
FYC: Qualquer cena envolvendo o martelo.
138. The Final Girls (EUA, 2015)
Não só reinventa particularidades dos slashers para derivar nas excelentes homenagens, principalmente para Sexta-feira 13, como também contrabalança sua espirituosidade com o drama presente no relacionamento entre mãe e filha - resultando na cena mais linda do filme.
FYC: A abertura com Kumba-no e Bette Davis Eyes.
137. Mulberry Street - Infecção em Nova York (Mulberry St. EUA, 2006)
Poucos começaram uma filmografia de forma tão concisa quanto o promissor Jim Mickle. Em seu primeiro filme, o americano foge da natureza cômica de seus correlacionados, culminando em algo mais sádico e trágico.
FYC: Dentro de um bar, acompanhamos o desenvolvimento da infecção e da mutação dos clientes.
136. Plataforma do Medo (Creep. Inglaterra, 2004)
É possível o menos ambicioso e mais falho filme do brilhante Christopher Smith, porém com um primeiro ato espetacular e com o apuro estético sempre interessante do inglês.
FYC: Kate observa seu stalker ser puxado para fora do trem.
135. Identidade (Identity. EUA, 2003)
A carreira de James Mangold é conhecida por seus altos e baixos, mas Identidade é certamente o ponto mais alto que já atingiu. Ao abordar dez estranhos que se veem emboscados num motel durante uma tempestade e começam a morrer, um a um, o diretor nos insere literalmente dentro da mente de um assassino, o que faz o percurso ser muito mais interessante do que apenas um thriller comum.
FYC: Ed descobre que é apenas uma das personalidades de Malcolm Rivers.
134. Byzantium (Irlanda, 2012)
Como se vampiros fossem andarilhos que servissem como uma espécie de intermediários entre a vida e a morte, a profundidade que Neil Jordan produz na platônica amizade entre Ella e Clara (nos mesmos moldes de Lestat e Louis) termina conduzindo o terror de uma forma muito mais triste do que aventureira, algo que curiosamente se afasta do que sempre foi seu forte.
FYC: Hanna prova sangue pela primeira vez.
133. Entes Queridos (The Loved Ones. Austrália, 2009)
Apresentando seus personagens com um fascínio pela loucura e com uma conotação incestuosa, Entes Queridos se compromete emocionalmente com o seu sadismo, o que desperta uma sensação curiosa.
FYC: A dança vulneravelmente emocional (e chocante) de pai e filha.
132. Boa Noite, Mamãe (Ich seh, Ich seh. Áustria, 2014)
A intensidade com que a narrativa é sobrecarregada, aliada aos tons fúnebres e ambíguos, lança ao espectador uma angústia sintomática e provocante. Severin Fiala e Veronika Franz retornam às perguntas levantadas por Honeymoon e, em menor grau, por A Pele Que Habito: quem está vivendo na mesma casa que você?
FYC: Os gêmeos amarram a mãe em sua cama para descobrir quem é a invasora e o que ela fez com a mãe deles.
131. Último Trem, O (The Midnight Meat Train. EUA, 2008)
O longa-metragem de Ryûnei Kitamura transita entre a obsessão e o limite do retrato, tornando-se um testemunho primitivo da imitação, pegando como gancho o submundo e a virilidade do personagem de Vinnie Jones.
FYC: O vagão de mortos.
130. Espinhos (Splinter. EUA, 2008)
Antes de tentar a sorte com a franquia O Grito, no terceiro exemplar, o diretor Toby Wilkins estreava neste interessante sci-fi, que se juntava ao apelo de Cabana do Inferno, ao encontrar tons cômicos na abordagem macabra.
FYC: A ajuda chega na pele de uma policial que desconhece o monstro que os cercam no poste de gasolina; por pouco tempo.