9 de fevereiro de 2015

Invencível

Unbroken. EUA/Japão, 2014. Direção: Angelina Jolie. Roteiro:  William Nicholson, Richard LaGravenese e Joel e Ethan Coen, baseado na obra de Laura Hillenbrand. Elenco: Jack O'Connell, Domhnall Gleeson, Garrett Hedlund, Jai Courtney, Miyavi. Duração: 137 min. 
 
Distanciando-se da veia politizada e sensível da diretora, Invencível é um exemplar corrido, automático e um esforço problemático de Angelina Jolie em emular um cinema clássico hollywoodiano que, à primeira vista, escapa da vocação demonstrada em seu primeiro filme. É preferindo soluções rasas e artificiais, como os terríveis flashbacks, que a cineasta frustra em denunciar uma história tocante, e cuja moral permanece uma incógnita.
Afinal, o individualismo transformado numa adulação cristã, dificilmente, passa percebida nos primeiros atos ou no próprio cerne de "heroísmo". Além do mais, a indicação de sofrimento constante joga em seu desfavor, apontando para um excesso de melodrama que interfere no tom verossímil da trama. Fica difícil, por exemplo, ter fé (com o perdão do trocadilho) que o sofrimento de todo um complexo tenha sido tão individual, e a necessidade que Jolie sente em transformar Zamperini em um pária piora mais as coisas - a cena dele pedindo para levar um soco de cada soldado é constrangedora, neste panorama.
Além disso, não dá para deixar de ressaltar o assustador plano, que eleva o "altruísmo" americano à última potência, na fotografia de Roger Deakins, ao conferir um tom autoritário e vilanesco à Watanabe e, em maior escala, ao Japão. E é quase ofensivo este plano, onde uma bandeira do país oriental tremula entre um rastro de destruição e uma espécie de cajado militar. A fotografia do americano, aliás, é um caso à parte. Sempre optando por tons mais quentes e um contraluz estável, Deakins consegue empregar um mínimo de dose dramática nas cenas de grandes esforços ou em tomadas que demonstram o nível crítico que Zamperini se encontra: e por mais que a cena dos socos seja terrível, é inegável a aflição que é visualizar a quantidade interminável de soldados se enfileirando; como também a maioria das cenas no bote salva-vidas é dona de uma solidez invejável. 
Com cacoetes de principiante, porém, Jolie ainda não exerce controle completo sobre suas intenções: assim, é notável a forma como muitas de suas cenas no primeiro ato se desenrolam - um plano horizontal para uma aproximação de perfil. Da mesma forma, a falta de confiança na história é visível ao preferir uma ótica mais conservadora para contar a história, abandonando quase que por completo sua personalidade: a montagem, nesta ótica, é frágil ao indicar quantos dias aquelas pessoas estão lá, quando o mais correto seria experimentarmos a sensação vivida por eles; igualmente, os flashbacks não têm fundamento algum, feitos apenas para mostrar que aquela pessoa já foi um maratonista.
É difícil deixar o mundo de Zamperini com uma sensação de empatia ou conhecimento, portanto. Quem foi o homem? Uma resposta que poderá ter múltiplas versões. E, talvez, nenhuma delas seja satisfatória. 
 

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