20 de fevereiro de 2015

Livre

Wild, EUA, 2014. Direção: Jean-Marc Vallée. Roteiro: Nick Hornby, baseado no livro de Cheryl Strayed. Elenco: Reese Whiterspoon, Laura Dern, Thomas Sadoski, Keene McRae, Gaby Hoffmanm, Kevin Rankin, Michiel Huisman. Duração: 115 min. 

Andando paralelamente a Na Natureza Selvagem, Livre é uma narrativa que estima a perda e a ressurreição que esta pode ocasionar. Porém, diferente da obra de Sean Penn, Vallée não está à vontade para evidenciar a fragilidade humana em sua natureza física, anárquica e independente; sim, na figura de uma mulher forte, mas dependente, material e instável.

Guiada por Reese Witherspoon com trejeitos que já são sua marca registrada no drama, como o olhar cínico e a sucessão de expressões faciais exageradas, Cheryl não possui um amor pela natureza ou uma paixão abrangente pela liberdade que pode ser oferecida. Ela está lá para se testar. Sofrer, gritar e denunciar fragmentos de quem ela já foi e quem ela quer ser. A válvula de escape é a perda da mãe, que faz com que ela precise retornar ao tempo em que era uma promessa. De quando era independente, segura de si; quando estava no controle. Demonstrando a dificuldade de levantar a tonelada pertencida à mochila, o esforço de andar na neve e de lutar contra seus próprios instintos, a atriz possui alguns momentos eficientes, principalmente ao visualizar na figura de Greg a luta contra o desejo (observe que sua primeira aparição é nu, banhando-se); igualmente, os olhares de cinismo e impaciência sutis que confere ao grupo de jovens que a aborda no terceiro ato (chamam-na de rainha) são admiráveis.

Todavia, a busca é naturalmente frágil por valorizar em demasia uma dependência materna, que nunca consegue se mostrar verossímil, além de transformar a garota numa sobrevivente de uma grande batalha entre corpo/mente - o que é difícil idealizar, tendo em vista a atuação tímida de Witherspoon. E se a montagem também decide orientar o espectador sinalizando os dias que se passam, o que é sempre vergonhoso, ao menos acerta na concepção da narrativa: quando brinca com nossas suposições - a trilha passar a ser uma fuga de realidade, os personagens que cruzam o caminho da protagonista serem interessantes e a levarem para o caminho que ela almeja: a cena mais extrovertida com ela, a de alguém cantarolando What's going on, é ótima. Em compensação, os flashbacks são instáveis; a relação entre mãe/filha não é algo totalmente coerente, ainda que Laura Dern esteja muito bem no papel de mãe protetora (o monólogo do carro e o da cozinha são excepcionais); e a rebeldia de Cheryl soa tão pálida quanto sua maquiagem excedida.

Com diálogos pouco produtivos ("Sei que fui importante") e uma curiosa falta de perda de peso (após centenas de dias caminhando, com pouca água e comida, a personagem continua com o mesmo peso), Livre é o ato desesperado da protagonista em achar uma liberdade individual. Uma jornada com obstáculos físicos e mentais (e narrativos).


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