22 de outubro de 2015

Beasts of no Nation


Idem, EUA, 2015. Direção: Cary Joji Fukunaga. Roteiro: Cary Joji Fukunaga, baseado no livro de Uzodinma Iweala. Elenco: Abraham Attah, Idris Elba, Emmanuel Affadzi, Ama Abebrese, Francis Weddey, Emmanuel Nii Adom Quaye. Duração: 137 minutos.

Numa das cenas mais emblemáticas de Beasts of no Nation, o Comandante inicia um cântico com seu combatentes para durante a dança pré-guerra poder ouvir o coração deles batendo, esperando pelo momento da batalha.  Na guerra física e mental proposta por Cary Joji Fukunaga, as crianças e a juventude são as principais baixas dentro da realidade mortal que elas passaram a fazer parte.

A figura escolhida para dar vida à trajetória de uma criança da ingenuidade para a vingança é Agu, que vivia em uma comunidade dizimada pela guerra civil. É a voz do filme, literalmente - aliás, talvez o único problema, ao criar um conflito entre a brutalidade evidenciada e a filosofia existencialista da narração. A narração de Agu está lá para protegê-lo, não fazer com que o espectador o julgue. Ele procura entender o que está fazendo, quais as ramificações e o que ela está perdendo neste percurso. Soa prejudicial, já que compreendemos os limites que a criança chega ou a abordagem que ela toma.

Desta forma, quando Fukunaga é mais sutil, o filme igualmente ganha uma solidez muito maior. Um dos melhores enfoques do diretor, por exemplo, é a liderança d'O Comandante e seu relacionamento com Agu e Strika. Afinal, o personagem é a figura perdida na vida daquelas crianças, o pai que elas não possuem mais. É o elo de ligação delas entre a guerra e a vingança. Quem os ensina a ser como são.

Nesta perspectiva, a voz do imenso Idris Elba intercala entre simpatia e austeridade, fazendo com que o choque seja muito maior na cena em que se aproveita da fragilidade de Agu, fazendo com que, antes, este acredite que só quer o seu bem e que guarde segredo. Na mesma linha, a voz do Comandante sendo constante no primeiro assassinato de Agu ("Eles mataram seu pai") é reveladora, pois evidencia a extrema influência da figura paterna naquele crime que assistimos.


De tal modo, quando nos deparamos com mísseis tomando os céus, aos olhos daquelas crianças de vigia, compreendemos que no mundo delas, não importa o que aconteça, não há mais estrelas cadentes ou fogos de artifício. Apenas guerra.  

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