29 de outubro de 2015

Ponte dos Espiões

Bridge of Spies, EUA, 2015. Direção: Steven Spielberg. Roteiro: Matt Charman, Ethan Coen, Joel Coen. Elenco: Tom Hanks, Mark Rylance, Alan Alda, Austin Stowell, Jesse Plemons, Dakin Matthews, Amy Ryan, Sebastian Koch. Duração: 141 minutos.

Não há tempo para discutir governos nos últimos filmes de Steven Spielberg; apenas as ações de homens e suas consequências. É a perspectiva humana, o que importa. Deste modo, a primeira cena de Ponte dos Espiões é reveladora ao propor um de seus principais personagens, o Coronel interpretado pelo extraordinário Mark Rylance, num literal autorretrato, onde podemos observar o homem, o seu reflexo e o retrato que pinta de si mesmo. Comum ao longo da narrativa, o triplo ponto de vista acerca de uma mesma situação é sempre fascinante: desde três advogados se reunindo até duas recepcionistas com um vaso de flores ao centro do quadro, o cineasta busca constantemente um intercessor para valorizar seus opostos.

James B. Donovan é o principal intermediário escolhido por Spielberg, sob esta ótica.  Em sua apresentação, o destaque é sua fala: "Não é meu 'cara'. É meu cliente. Há uma diferença". Ali, a sua trajetória está traçada: o advogado é encurralado pelos sócios no escritório com o uso de "dever patriótico"; fica numa posição desconfortável entre dois opostos, enquanto a bandeira americana vibra no fundo; vê-se contra a parede, na prisão, junto com o seu cliente, num plano belíssimo; para, ao fim, tornar-se o interlocutor que sempre se esperou dele, numa negociação em uma ponte pênsil. 

Spielberg se importa com o futuro, em Ponte dos Espiões, mais do que qualquer outra coisa. Assim, mais uma vez, como em Lincoln, o diretor prefere filmar as reações infantis em cenas chaves - se antes, o assassinato de um presidente era trocado pela comoção de uma criança; aqui, um julgamento de um tribunal passa para uma sala de aula, com todas as crianças de pé, jurando amor à bandeira, para depois assistir ao país lançando uma bomba atômica no Japão. 

Numa guerra de informações, Spielberg discorre sobre julgamentos prévios e escancara nossas realidades em diferentes trens. Ao Donavan analisar uma cena de jovens pulando grades para assaltar uma residência, portanto, compreendemos que ainda que estejamos em linhas distintas, o trilho pode ser o mesmo.   


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