3 de dezembro de 2015

99 Homes

Idem, EUA, 2014. Direção: Ramin Bahrani. Roteiro: Ramin Bahrani e Amir Naderi. Elenco: Andrew Garfield, Michael Shannon, Laura Dern, Clancy Brown, Tim Guinee, Noah Lomax. Duração: 112 minutos. 
 
No seu excelente Capitalismo – Uma História de Amor, Michael Moore indicava algumas das artimanhas que os grandes conglomerados bancários faziam para continuar inflacionando o lucro e especulando – inclusive se aproveitando da classe média, que assumiam novas hipotecas com a promessa de dinheiro fácil e rápido. A longo prazo, o resultado foi a luta das pessoas na justiça para ficar com seus imóveis, cujo os bancos passavam a reivindicar. 99 Homes, de Ramin Bahrani, estende a discussão da ganância levantada por filmes como Wall Street, usando a moralidade, a lei e a humanidade como ganchos para chegar até aonde quer chegar: a facilidade de se corromper, numa crise. 

Inserindo-nos na perspectiva do “easy money”, que passa a traçar a vida do personagem de Andrew Garfield, o diretor flerta com as sequelas familiares produzidas pela crise imobiliaria nos Estados Unidos, ao mesmo tempo que evidencia a dificuldade em conseguir emprego, o que prepara o terreno para as facilidades oferecidas por Rick Carver. Até onde você iria pelo dinheiro? “Até a recuperação de sua casa”, Nash pensa. Mas essa nunca acaba sendo a realidade, algo refletido nos piores momentos de seu trabalho: o primeiro despejo de um casal e o despejo de um idoso.

Bahrani confia na instabilidade criada, e que gera solidez as camadas de seu roteiro. Se suas frases mostram o desprendimento no mundo dos negócios (“Você não confia em mim? Você me contratou, eu não tenho escolha” e “Fodam-se os sonhos. Por mais 100 casas!” são bons exemplos), o diretor concentra no personagem de um soberbo Michael Shannon o espectro do cortejo e da ambição. Ao mesmo tempo em que seu personagem aperta a mão de um morador, ele o apunhá-la com outra, reprimindo um desdém e vergonha insultantes.

Quase reprisando o papel de Michael Douglas, em Wall Street, o monólogo sobre escolhas, fugas, a falsa preocupação com a lei e de que a América não foi construída por perdedores (já que seria a “terra dos vencedores”, feita por eles e para eles), Shannon é a válvula de 99 Homes. “Eu sou apenas o representante”, diz ele, nem olhando nos olhos de quem está perdendo tudo, quando despeja famílias de suas casas.

Na luta entre a burocracia e a humanidade, resta para Andrew Garfield ser o rosto da empatia, após passear pelos dois mundos. É um pena, portanto, que a limitação de sua transformação seja tão imensa, fazendo com apenas o roteiro possa denunciar o passo a passo que o leva até o clímax final.

Porque, ainda que a alternância entre raiva, tristeza e semblante cosntantemente fechado não auxiliem o trabalho de Garfield, o trabalho de Bahrani é suficiente para ressaltar o quanto um imóvel pode ser gigante quando não há mais com quem dividi-lo.

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