8 de dezembro de 2015

Garota Dinamarquesa, A

The Danish Girl, Inglaterra, 2015. Direção: Tom Hooper. Roteiro: Lucinda Coxon, baseado na novela de David Ebershoff. Elenco: Alicia Vikander, Eddie Redmayne, Amber Heard, Ben Whishaw, Pip Torrens, Matthias Schoenaerts. Duração: 120 minutos.

De certa forma, é difícil condenar o cinema de Tom Hooper ou chamá-lo de picareta. Porque, ao mesmo tempo em que seus filmes carecem de inteligência na execução dos planos, a direção de atores e a condução dramática de sua história são sempre fascinantes. Em A Garota Dinamarquesa, ancorando-se na franqueza de personagens soberbamente interpretados por Alicia Vikander e Eddie Redmayne, o inglês consegue novamente nos transportar com sensibilidade para uma obra sobre a peculiaridade dos desejos, identidade e a delicadeza do toque.

Sob esta ótica, só a naturalidade com que aborda a descoberta da identidade de gênero de Lili merece aplausos, por não tratá-la como um estereótipo ou num equivocado pré-conceito, já que a transexualidade não quer dizer homossexualidade. Pelo contrário, Einar ama sua mulher e evidencia esse amor sem nunca abandoná-la. Para ele, Lili é outra pessoa. Não à toa, a “prima” é citada em terceira pessoa sempre que possível pelo casal, como se, naqueles momentos, ela realmente não estivesse presente.

Com isto, Gerda Wegener se torna o equilíbrio do casal e a personagem de maior força da narrativa. Se a sua paixão e afeição pelo marido são demonstradas num semblante mais sexual, físico, num primeiro instante; em segundo plano, ela acha apenas divertido que ambos compactuem um segredo tão diferente, não notando o que aquilo tudo poderia significar. É comovente, portanto, a maneira com que sua mudança sucede, já que, após observar um discreto beijo entre Lili e Henrik, a personagem compreende que seu Einar já não está mais ali. 

Vikander é genial ao transparecer cada uma dessas nuances: o amor e devoção pelo marido, o companheirismo que continua tendo com ele e, claro, a sua própria carência em segundo plano. É lindíssimo, desta forma, ela deixando o símbolo final, no clímax, voar. Como se Lili, finalmente, estivesse livre.

Eddie Redmayne, por sua vez, surge completamente diferente do seu personagem de A Teoria de Tudo, cujo também passava por uma transformação extrema. Se no filme de Hawkins, o ator evidenciava os tiques do cientista com as mãos constantemente agitadas e o corpo inclinado; aqui, Redmayne expõe a delicadeza do toque, como se aproveitasse o contato do tecido na pele, como se sentisse desejado, natural, numa intimidade recém-descoberta. Igualmente, o gestual avança conforme suas experimentações; além de sempre manter a cabeça reclinada – salientando sua timidez.


Ao contrário dos indícios prévios, A Garota Dinamarquesa não é um filme de aparências. É uma prosa sobre a descoberta de quem realmente somos.

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