18 de janeiro de 2016

Creed: Nascido para Lutar

Creed, EUA, 2015. Direção: Ryan Coogler. Roteiro: Ryan Coogler, Aaron Covington, baseado nos personagens de Sylvester Stallone. Elenco: Michael B. Jordan, Sylvester Stallone, Tessa Thompson, Phylicia Rashad, Andre Ward, Tony Bellew, Ritchie Coster. Duração: 133 minutos. 

Já na primeira sequência de Creed, um jovem Adônis encara Mary Anne com uma raiva incontida por passar anos pela assistência social e orfanatos, sem rumo, julgando-a por sua estranha bondade no tom de voz. Afinal, ele estava descrente de boas intenções numa sociedade que, para ele, não reconhecia órfãos. Uma simbologia que se tornava ainda mais bela, quando o garoto, ao perceber que estava diante da viúva de seu pai, descerrava seu punho.

Essa rigidez e descrença, entretanto, não larga um jovem que segue com o medo do abandono. Obstinado a fazer de sua luta diária (interna, principalmente) uma forma de vida no esporte, Donnie assemelha-se aos grandes lutadores do cinema, como Jake LaMotta, Ali, Randy 'The Ram' Robinson e, claro, Rocky - cujo papéis que desempenhavam no ringue eram apenas uma extensão de suas vidas pessoais.

Assim, a figura personificada por um genial Sylvester Stallone, na atuação de sua carreira, surge como um oposto de Donnie, no momento em que eles se encontram. Subindo as escadas de seu restaurante com uma aparência fragilizada, com seus óculos, e apenas retratos e seu chapéu o lembrando de seus tempos áureos, Rocky é apenas um observador, agora. Desvinculado do ringue esportivo e pessoal.

"Eu fiquei. Todos os outros se foram, mas eu ainda estou aqui.", diz o personagem para Donnie numa das cenas mais emocionantes da franquia. É Donnie que o tira da aposentadoria literal, da desistência, ao relembrar de tempos que se foram. Ambos carregam cicatrizes diferentes. E é onde reside a força do relacionamento: o filho de um velho amigo, um começo de uma nova vida, para quem já havia perdido todo o seu passado. A cena em que Stallone visita os túmulos de Mickey e Adrian aponta seu vínculo com o pouco que havia restado.

Ryan Coogler compreende a força sentimental que possui em mãos. Intercalando sua ação de forma íntima, quase paternal com Donnie, o diretor se apega aos planos mais fechados, principalmente nas lutas, para denunciar a força dos socos (com uma edição de som primorosa) e as consequências físicas: caímos juntos com o personagem e sentimos o seu desgaste. Da mesma forma, o diretor é sábio ao usar planos-sequência pontualmente, inserindo-nos como espectadores dos palcos da vida de Donnie - seja numa prisão, lutas clandestinas ou em arenas (e a forma como a tensão se encaixa na luta final é ainda mais palpável por isso, já que entramos junto com Creed e observamos a escuridão da entrada do oponente de seu ponto de vista). É natural, portanto, que sua provocação seja envolvente e coesa: "você sangra também!".

A fragilidade emocional de um Michael B. Jordan completamente entregue ao personagem é visualizada constantemente, chegando ao ápice na prisão, quando nem sua raiva por Rocky também "querer" abandoná-lo deixa cair uma indesejada lágrima. É uma pena que esse espectro não seja levado em conta, ao nos depararmos com uma montagem não condizente com a essência do drama, fazendo com que assistamos novamente tudo aquilo que já havíamos visto, quando Donnie é derrubado. E o motivo de se reerguer. 

Nada que frustre o resultado, todavia.

Porque, se antes Rocky apenas subia os degraus da escada de seu restaurante e Adônis lutava clandestinamente, é numa arena e numa grande escadaria que os dois passam a admirar uma vista promissora. De uma nova franquia, talvez. 


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