16 de setembro de 2016

Lua em Sagitário

Idem, Brasil, 2016. Direção: Márcia Paraíso. Roteiro: Will Martins e Márcia Paraíso. Elenco: Manuela Campagna, Fagundes Emanuel, Jean Pierre Noher, Andrea Buzato, Elka Maravilha, Serguei. Duração: 1h45min.

"Para aqueles que querem abraçar o mundo com as pernas" expõe a primeira frase do filme de Márcia Paraíso, Lua em Sagitário. Ao som das teclas de um computador, ela pretende embarcar no mundo adolescente de Ana e Murilo na pequena cidade Princesa, onde todos se conhecem e o forasteiro interpretado por Fagundes Emanuel é a novidade que estimula a vida pacata da garota que precisa viver. A chave do filme de Paraíso é o tom da aventura infanto-juvenil, que, assim como assume sua citação sobre o mundo, acha em sua rebeldia uma natureza muito mais divertida e contemplativa do que apenas em lidar com a realidade cotidiana.
Na mente de Ana, interpretada por Manuela Campagna, a realidade não está na natureza tradicional de Princesa. Ela está no mundo que desconhece, além de Dionísio Cerqueira. Quando A Caverna (o único lugar interessante da cidade) passa a não ser o bastante, o assentamento que Murilo vive traz à novidade ao mundo de Ana. Um movimento que a garota apenas ouvira falar (negativamente) de seu pai e que passa a experimentar com suas próprias mãos. Contudo, ainda que a esfera política importe para a direção de Paraíso e o roteiro coescrito com Will Martins, ele serve como coadjuvante para a jovem.
Lua em Sagitário carrega particularidades que se assemelham a um dos grandes filmes desse ano, Sing Street. Quando o personagem do filme irlandês era apresentado no seu quarto, a influência pelo contexto vinha através do irmão, que servia como seu mentor, e da própria música – que era a única companheira de Cosmo, até ele encontrar sua musa. No filme catarinense, a música também tem seu papel no desenvolvimento da personagem de Manuela, com ela constantemente com seus fones de ouvido quando está em casa ou com seu violão no quarto. O mentor de Ana, porém, não é um irmão, mas outra figura praticamente familiar: LP (Jean Pierre Noher). É por LP, um simbolismo claro, que o mundo da música é apresentado aos jovens que clamam por conhecimento e experiências.
É curioso que assim como o irmão de Cosmo, em Sing Street, LP também nunca tenha saído de sua realidade e que apenas detenha conhecimento teórico, nunca prático. Ambos, afinal, encontram nos garotos realidades alternativas: o que eles poderiam ter sido, se fossem mais corajosos. Desta forma, há uma cena no filme que praticamente reparte a narrativa: o encontro dos garotos com o estranho casal de Elke Maravilha e Sergei. Ali, naquela casa, está a essência do desconhecido, da provação, da rebeldia, do novo. Observe, por exemplo, como os garotos são trazidos até a casa no meio da floresta, à princípio – quase como o começo de uma história infantil, onde os bruxos esperam as crianças famintas por doces. Só que na casa, a tentação não provém dos doces, mas das drogas. É a partir daquele momento que ambos se sentem completos na sua busca pelo novo. E por isso Florianópolis e suas praias viram apenas uma complementação para a viagem. Não o mais importante.
Todavia, o filme de Márcia Paraíso não se livra do supérfluo, assim ficando precário o desenvolvimento da história nos assentamentos e os pensamentos sociais sobre o MST – a cena na casa de jovens de elite é problemática, neste aspecto, bem como as inserções de um beija-flor ou quedas d'água. O mesmo ocorre no clímax, onde um beijo entre os jovens freia um momento muito mais significativo – os caminhos se cruzando numa estrada de chão batido com múltiplas possibilidades.
Em sua linguagem infanto-juvenil, porém, Lua em Sagitário pode encontrar grandes admiradores ao passar com paixão pelas estradas de Santa Catarina. Um encantamento que não soa tão rebelde quanto parece querer ser, mas que tampouco é infrutífero. 

Nenhum comentário: