11 de novembro de 2016

Ouija: Origem do Mal

Ouija: Origin of Evil. EUA, 2016. Direção: Mike Flanagan. Roteiro: Mike Flanagan e Jeff Howard. Elenco: Elizabeth Reaser, Lulu Wilson, Annalise Basso e Henry Thomas. Duração: 1h39min.

Mike Flanagan é um dos cineastas mais prolixos do terror atual. Só em 2016, o diretor lançou comercialmente Hush: A Morte Ouve, O Sono da Morte e, este, Ouija: Origem do Mal. Neste seu universo, portanto, algumas particularidades já começam a ficar ressaltadas: uma ingenuidade característica, o passado retornando em função de algum mal e as nossos próprios medos como fio condutores de sua tensão.

Em O Sono da Morte, os pesadelos literais de Cody; Hush: A Morte Ouve, uma deficiente auditiva que vive isolada é acuada por um serial killer que se aproveita de sua situação para mexer com o seu psicológico; O Espelho envolve as cicatrizes familiares de dois irmãos enlutados que não conseguem esconder o passado e é justamente esse passado que os assombrará; Absentia traz a ausência do marido e os medos de suas protagonistas, igualmente, como a chave de ignição; e, finalmente, Ouija: Origem do Mal, capta na figura de uma família que sente a ausência do pai uma ironia fina sobre extrair o máximo da ingenuidade alheia.

Porque a principal vítima de Ouija é, claro, a pequena Doris, que representa a ingenuidade daquela família sobre o oculto. Não é a mãe gananciosa ou a irmã egoísta que passam a ser atormentadas e sugadas por espíritos aproveitadores. É Doris, a única que desconhece segredos da vida. Ela é a mais suscetível a algo desconhecido. Desperta curiosidade o por que da mãe gananciosa, que vive em função da memória do marido para ganhar dinheiro de outras pessoas que sofrem com a perda de parentes próximos, ou da irmã egoísta, não serem as principais afetadas. Todas são, claro, mas não desde o princípio. A forma de entrar na família provém da figura mais carente de apego: a criança. Isso é ressaltado de forma brilhante quando você assiste ao destino de cada uma delas, como deveria ser: a mãe encontrando a companhia final do marido, a menina sendo a primeira a dar a mão ao pai, a irmã egoísta vivendo solitariamente.

Neste aspecto, a trama espiritual de Flanagan eleva Ouija a um patamar mais interessante, ao utilizar o tabuleiro Ouija apenas como um efeito narrativo, não como protagonista. Entretanto, como de costume, a redundância do seu cineasta acaba tornando a previsibilidade das ações e de sua própria tensão como o grande mal de sua narrativa. Se por um lado, ele não esconde suas semelhanças com Invocação do Mal na construção da importância do vínculo familiar e na sua batalha entre ceticismo e sobrenatural, é bem evidente que Flanagan ainda não conseguiu achar o ponto certo entre a sua tensão e a complexidade de seus personagens. Assim, a retórica incomoda por nunca se aprofundar mais naquelas pessoas, apenas deixá-las preparadas para seus respectivos destinos que acontecerão num terceiro ato extremamente intenso e forçado.

Dentro dessa previsibilidade, Flanagan não consegue construir armadilhas o suficiente para deixar o espectador coagido ou tenso. Ouija Origem do Mal ingressa na sua filmografia, portanto, como o esperado: com a personalidade de seu diretor, mas com os erros que vêm com ela.


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