26 de fevereiro de 2017

Moonlight: Sob a Luz do Luar

Moonlight, EUA, 2016. Direção: Barry Jenkins. Roteiro: Barry Jenkins. Elenco: Alex Hibbert, Mahershala Ali, Naomie Harris, Ashton Sanders, Jharell Jerome, Janelle Monáe, Jaden Piner, Trevante Rhodes e André Holland. Duração: 1h51min.

Há uma certa semelhança entre dois filmes indicados ao Oscar esse ano, Manchester À Beira Mar e Moonlight. Ambos, afinal, tratam sobre a necessidade de continuar vivendo e superar os traumas e adversidades que aparecem no caminho. Enquanto um lida com a morte, no entanto, outro acaba lidando com algo muito mais assustador – ao menos, para aqueles personagens –: a vida. Correndo das pessoas que o ameaçam e gritam obscenidades para feri-lo, Chiron surge numa emblemática cena, onde, após se isolar literalmente num quarto sem janelas, observa a imponência de Juan, que será sua principal referência paterna, arrancar uma das tábuas que servia para tapar a luz do sol e sugerir: “Venha. Não deve ser pior aqui fora.”

Nesta sensibilidade com que lida com a sua temática sobre autoaceitação e liberdade sexual, a direção de Barry Jenkins é eficiente ao ilustrar as situações que os personagens vivem – seja num ligeiro plano detalhe de uma arma, para invocar a sensação de perseguição, quanto numa câmera inquieta para retratar os alucinógenos agindo na cabeça da mãe de Little. Jenkins é seguro em cada frame, como aquele em que acompanha (num travelling circular) a chegada de Juan no seu ponto de drogas, ou nas cenas em que evidencia o isolamento de Chiron. Observe, por exemplo, o momento em que o garoto se afasta dos colegas jogando futebol ou a fantástica cena em que os colegas são mostrados vivendo suas vidas normalmente enquanto ele se sente acuado no fundo do plano.

Essa segurança, igualmente, também é sublinhada na montagem de Joi McMillon e Nat Sanders, que pontuam brilhantemente cada fase da vida de Chiron e o que o faz crescer: se num primeiro momento, o aprendizado com Juan sobre como ele precisa ser ele mesmo no mundo faz com que ele adquira personalidade; na segunda fase, no colégio, ele aprende a revidar. Na última, quando adulto, ele garante seu respeito. Não precisa mais correr. Ele continua de pé, não importando a quantidade de socos que leva/levou. É curioso, idem, que o que traz o choro de Chiron de volta seja exatamente seu passado – representado pela conversa com sua mãe e pelo telefonema que recebe de Kevin.

Se Chiron representa a dureza dessa vida reprimida, com suas expressões fechadas, poucas palavras e sem sorrisos, seu melhor amigo, Kevin, é exatamente seu oposto: alguém que aprendeu a se adequar na sociedade, mesmo que não seja necessariamente ele mesmo. Kevin casa, tem um casamento fracassado, ganha uma criança para cuidar, bate no amigo para ganhar status no colégio, é sempre sorridente, mas inveja o caráter de Chiron. Ama-o com certa devoção. Já Chiro, interpretado por três atores identicamente impressionantes na composição do personagem, como se realmente víssemos o amadurecimento dele em tempo real, aprende a ter um equilíbrio em sua vida, deixando-se apenas vulnerável pela sua paixão por Kevin. E se Naomie Harris e Janelle Monáe são marcantes nas poucas cenas que possuem, Marhershala Ali tem a conversa mais inesquecível e sensível do filme ao encorajar Chiron a ser ele mesmo, não deixar que as pessoas decidam por ele e explicar como a sociedade tentará fazer com que ele sinta vergonha de ser quem ele é.

Sensibilidade, aliás, é a palavra que define um filme tão forte quanto Moonlight. Ao observarmos o mesmo garoto sob a luz da lua, encarando-nos com intensidade, sabemos que ele finalmente encontrou o que buscava: amor próprio, não se importando com os julgamentos.

Nenhum comentário: